Poesias
Punhal de tinta
Teu rosto pálido
aguarda-me impassÃvel.
Teus olhos cegos convidam-me, provocam-me.
Tua boca muda me fala num sussurro:
Vem, te espero.
Eu obedeço.
Deslizo suavemente
sobre tua face o meu punhal de tinta.
Traço sinais, rasgo tua pele, invento cicatrizes.
A tinta escorre.
Não é tinta, me dizes,
o que me mancha é teu sangue,
são tuas lágrimas.
E recebes serena e compassiva
minhas mágoas, esperanças e alegria
em tinta transformados.
E porque me deixas,
sem queixumes, gemidos ou lamentos,
a contigo dividir júbilo e penas,
graças te dou folha de neve
agora maculada.
Ao romper meus grilhões tu me libertas,
página amável,
e eu, ingrata, te faço minha escrava.
04/11/2014